quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Mistério do Miojo


O Japão no período pós-guerra era o caos. Entre os vários problemas, um dos que mais afligia a população era a falta de alimentos. Os Estados Unidos tentavam ajudar enviando farinha de trigo para o país. O governo japonês por sua vez tentava estimular as pessoas a comer pão, uma forma de consumir a farinha importada dos EUA. Um taiwanês chamado Momofuku Ando acho a idéia ruim, pois os japoneses preferem comer macarrão em vez de pão.


Acontece que o país não tinha grandes fábricas de noodles e isso impedia a comercialização em grande escala. Ando não se conformou: criou um novo processo para produzir lamén, um tipo de macarrão pré-cozido que pode ser facilmente preparado. Inicialmente o preço do produto de Ando era bem alto para os padrões de consumo da época. No entanto, com o desenvolvimento do sistema de fabricação, ele foi capaz de diminuir custos e tornar seu macarrão um produto bem popular no Japão e em toda a Ásia. É claro, e ainda usava a farinha de trigo dos EUA.

Já milionário em com 61 anos de idade, Momofuku poderia muito bem ter pendurado as chuteiras. Porém, ele pensava que seu noodle deveria não só conquistar o oriente, mas também o resto do mundo. Para realizar tal feito ele teve uma das melhores sacadas da história do capitalismo, a estranha idéia de pôr macarrão instantâneo dentro de um copo. Bastava assim adicionar água quente e em três minutos o consumidor tinha uma refeição nas mãos. O Cup Noodles deu à Nissin o tão sonhado mercado ocidental e escreveu o nome de Ando na lista dos maiores empresários do planeta.

No entanto, mais antiga que a trajetória de Ando é a aventura do Doutor Kikunae Ikeda. Pesquisador da Universidade de Tóquio, ele foi o primeiro cientista a isolar o glutamato monossódico, usando como matéria-prima alguns tipos de algas marinhas. Na percepção do Doutor Ikeda, o glutamato monossódico também serviria como um novo tipo de tempero. Não é lá uma idéia muito boa, mas de fato deu certo. Ikeda batizou o produto de ajinomoto (em japonês “essência do sabor”) e se associou a uma empresa já existente para vendê-lo. Até aí era só um novo tempero, no entanto o sucesso da Ajinomoto nasceu de uma bela jogada de marketing. Ela começou quando eles foram até o ministério da saúde japonês e convenceram o governo de que glutamato monossódico era bem melhor para saúde do que o sal. Tal associação transformou um produto meio sem potencial em algo absurdamente vendável.

Paralela a essas duas sagas, eis que chegamos à Myojo Foods. No mesmo Japão destruído pelo pós-guerra, eles também pensaram em investir na fabricação de noodles de modo a aproveitar a farinha de trigo importada dos states. A fábrica foi batizada assim porque tinha como sede a cidade de Musashino, mesmo local de origem de uma famosa escola japonesa chamada Myoujou.

Da mesma maneira que a Nissin, a Myojo Food usou seu pioneirismo para crescer na Ásia. E parece que um empresário chinês conheceu um de seus produtos por lá, trazendo-o depois para o Brasil. Ele vendia para a comunidade japonesa em São Paulo. Logo o produto ficou conhecido entre os brasileiros como miojo. Era bem famoso, no entanto ainda caro devido ao fato de ser importado.

Isso começou a mudar em 1956, quando a Ajinomoto chegou ao Brasil. Já fixados no país, eles chamaram a Nissin para se instalar aqui em 1965 por meio de um acordo de cooperação (joint venture) entre as duas. À época a Nissin chegou ao nosso país para produzir seu lámen, mas deu de cara com os miojos importados e seu nome já popular. A sorte é que a própria Nissin já tinha uma joint venture com a Myojo Foods, isso desde a década de 1970. Sendo assim o nome pôde ser utilizado sem problemas, surgindo a Nissin-Miojo. Aliás, essa relação se consolidou finalmente em 2007, quando a Nissin comprou a maior parte das ações da Myojo Foods.

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