sexta-feira, 18 de novembro de 2011

5 táticas comum que não dão resultado para combater o crime

1 – Interrogatórios podem fazer pessoas inocentes confessarem



Você tem um irmão. Uma coisa sua sumiu. Não importa o quanto ele proteste ou insista que você dê uma olhada no quarto, você sabe que foi ele que pegou.

Um interrogatório é meio assim. Se o interrogador está convencido de que o suspeito é culpado antes do interrogatório começar, é difícil mudar de ideia. Ele vai assumir que tudo, desde os gritos de inocência a coçar o cabelo é prova de culpa, o que leva a uma linha mais agressiva de questionamento.
Mas quem se importa? Se o bandido confessar, os mocinhos ganham. É por isso que qualquer confissão torna um júri mais propenso a condenação, mesmo que ouça falar que a confissão foi coagida. Afinal, uma pessoa inocente não vai confessar algo que não fez, certo?

Errado. Aparentemente, isso acontece o tempo todo. Em um caso famoso de 1989, de um estupro no Central Park (Nova York, EUA), cinco homens foram para a cadeia depois que a polícia obteve confissões. Em seguida, eles foram liberados, quando se descobriu o verdadeiro culpado.
Não é tão difícil obter uma confissão de uma pessoa inocente. As mesmas técnicas psicológicas de pressão que desgastam um suspeito culpado fazem um monte de pessoas inocentes confessarem algo que não fizeram. Uma vez que pessoas inocentes são mais propensas do que criminosos a renunciar ao seu direito de permanecer em silêncio, elas são colocadas em uma situação de alto estresse, e nem sabem direito sobre o que estão sendo acusadas.

Elas também podem se sentir culpadas por algum motivo não relacionado (viram o crime e não informaram ou o pararam, por exemplo). Então, elas dizem qualquer coisa para acabar com o interrogatório.
Por exemplo, uma técnica de interrogatório popular é o interrogador dar um monólogo alegando que já sabe o suspeito é culpado, e depois seguir nove etapas para obter uma confissão assinada. É incrivelmente eficiente – os culpados confessam quase 84% do tempo. Mas os inocentes também confessam cerca de 43% do tempo. Adicione insinuar falsa evidência, e você pode alcançar uma taxa de falsa confissão de cerca de 94%.

2 – Retratados falados são quase inúteis



Você já viu isso em toda série policial que existe: a vítima descreve o homem que a agrediu, e a polícia chama um cara com um bloco de desenho para elaborar um retratado falado. Qual é o problema? Na realidade, as vítimas que ajudam a criar um esboço de seus agressores são quase 50% menos propensas a identificar corretamente um suspeito depois. Aliás, o primeiro problema é que, como você já deve ter notado, os artistas de retratados falados são geralmente terríveis em seus trabalhos. Em uma demonstração, um artista foi convidado a recriar os rostos de pessoas famosas enquanto olhava para suas fotos. O miserável resultado foi esse (da esquerda para a direita, Bill Cosby, Tom Cruise, Ronald Reagan e Michael Jordan).



Ainda existe um software especial para fazer retratado falado. Enquanto os artistas humanos são ruins, o software é muito menos eficaz. Em um estudo, esboços desenhados à mão levaram a uma taxa de 32,8% de identificação correta, enquanto o esboço do computador acabou correto apenas 22,4% do tempo. Esse tipo de taxa de sucesso é uma tragédia. Outro problema é que o ato de criar um esboço confunde a vítima. A memória é muito sugestionável; o cérebro se lembra de fatos, mas não lembra de onde nós aprendemos eles. Isso significa que se o artista faz algo de errado no esboço (o nariz do suspeito é grande demais, por exemplo), a vítima pode começar a pensar que é assim que o suspeito se parece. O cérebro não se lembra se viu pela primeira vez a face real ou o esboço. Então, os policiais prendem um cara que se parece com o esboço impreciso e a vítima diz, toda certa: “É ele!”.


3 – Alinhar suspeitos também é quase inútil



Vamos dizer (Deus nos livre) que algo terrível aconteça com você (como um bêbado fazer defecar na sua piscina). Felizmente, você consegue lançar um rápido olhar no cara antes dele fugir. Agora, a única coisa entre você e a doce justiça é escolher o criminoso de uma fila de suspeitos.
Ao ver um monte de gente junto, as testemunhas usam um julgamento sob pressão em relação a escolher um alvo. Isso significa que o cérebro não procura uma correspondência exata. Afinal, você não quer que o cara se livre do crime, ou fazer todo mundo perder tempo.

Então, ao invés de pegar o cara que é uma correspondência exata para a sua memória (que, como pudemos constatar, é um pouco nebulosa de qualquer maneira), você vai escolher qualquer cara que é a correspondência mais próxima dos caras na frente de você (o que é um problema se o bêbado da piscina não está realmente na fila de suspeitos).

E às vezes os policiais não ajudam. Lembre-se, eles sabem que um certo povo da fila foi trazido apenas para preencher a lista de suspeitos (como policiais fora de serviço) e qual deles é o provavel culpado. Então, há um cara lá em cima que os policiais querem que você aponte, e os seres humanos têm um milhão de maneiras de sutilmente influenciar as decisões de outras pessoas.

Por exemplo, inflexões de voz e até mesmo gestos inconscientes podem orientar o testemunho para a preferência do policial. Uma vez que a seleção “correta” é feita, a polícia pode elogiar você, o que aumenta artificialmente a sua confiança no julgamento. E isso é complicado, porque a maioria dos júris fundamenta seus julgamentos em grande parte na confiança da testemunha. De modo que todo o processo distorcido pode colocar um homem inocente atrás das grades. Para se ter uma ideia do quão instável o processo é, apenas lembrar a testemunha de que o suspeito pode não estar na fila diminui a identificação incorreta em cerca de 46%. Você também pode aumentar a precisão ao pedir que alguém não familiarizado com o caso ajude a vítima, para que não tente influenciar a testemunha de uma forma ou de outra.

4 – Cadeias tornam pessoas não violentas em criminosos recorrentes



Pense em um cara condenado por um crime não violento, como fumar maconha em um estacionamento. Como sociedade, você tem que fazer uma escolha. Você pode concedê-lo liberdade condicional ou condená-lo a serviço comunitário, imaginando que o que ele fez não foi tão grave assim.

Mas você também está tornando mais fácil para ele continuar a ser um criminoso, certo? Se você não o tira da rua, ele fica livre para entrar em mais confusão. E por que não, se ele percebeu que não vai ser punido gravemente por seus crimes? Devemos levar a sério o crime! 

Assustar aqueles caras, mandá-los para a cadeia, deixá-los sentir as consequências de suas ações. Uma vez fora, eles vão endireitar-se, por medo de voltar. Então, qual é o problema? Que normalmente o oposto ocorre. Digamos que dois fumantes de maconha são pegos, e um tem que cumprir serviço de reinserção social e o outro passa um tempo na prisão.
O primeiro cara, que cumpre seu tempo coletando lixo em um colete laranja berrante e batendo um papo semanal com um policial tem aproximadamente 20% menos probabilidade de estar na cadeia três anos depois. O segundo cara, que supostamente levou uma lição mais dura, tem 50% de chance de aparecer na prisão novamente nos próximos três anos.

Uma variedade de estudos têm mostrado isso – a prisão pela primeira vez para infratores não violentos é completamente ineficaz em impedir crimes no futuro. É quase como se a prisão colocasse na pessoa uma mentalidade criminal, já que passa o dia todo conversando com outros criminosos, completamente imersa em seu estilo de vida, costumes e modo de pensar, até começar a agir como eles.

Então, se os dados dizem que a prisão não é a melhor escolha para manter infratores não violentos longe dos crimes, por que insistimos em usá-la? Para começar, há um viés cultural maciço a favor de colocar as pessoas na prisão – não queremos ser fracos diante do crime, afinal. E, simplesmente, nós adoramos colocar pessoas na cadeia – pague pelo que você fez!

5 – Condenação por drogas é um vórtice de insanidade ineficaz




Nos EUA, os anos 80 foram dedicados a dizer “NÃO!” às drogas. Isto foi devido ao aparecimento do crack, uma forma muito mais barata de droga que explodiu em popularidade do dia para a noite.

Assim, foi concluído que o crack era 50 vezes mais perigoso que a cocaína. O Congresso transformou esta na regra em 100:1, o que significava que ter um grama de crack era tão ruim quanto ter 100 gramas de cocaína. A posse de 500 gramas de cocaína ou 5 gramas de crack era suficiente para classificar uma pessoa como traficante, levando a uma sentença mínima obrigatória de cinco anos. E 5 gramas de crack é uma quantidade minúscula. Pena que a coisa toda era pura besteira. Não há absolutamente nenhuma diferença de perigo entre crack e cocaína em pó (pelo menos não de 100:1. Agora, nos EUA, essa taxa é de 18:1, sabe-se Deus baseada em quê). É tudo droga viciante e perigosa.

Mas, novamente, é melhor ser duro do que deixar nossos filhos se transformarem em drogados, certo?
Apesar da prisão não funcionar – tratar usuários de drogas é o caminho mais eficaz para reduzir o uso de drogas -, não importa. As leis forçam juízes a impor sentenças de prisão em réus primários, e é assim que nós combatemos o tráfico. O ciclo não vê uma previsão próxima de ter um fim.

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